As organizações sentem permanentemente a necessidade de adoptar novas formas organizacionais e novos paradigmas de administração/gestão para responder a constantes desafios.
A aprendizagem organizacional é apresentada como uma nova abordagem às situações problemáticas que permite resolver os problemas de competitividade e inovação nas organizações. As organizações devem ser concebidas para criar, adquirir e transferir conhecimentos e para modificar os seus comportamentos, contribuindo para a criação de novos conhecimentos.
Para Senge (cit. por Franco e Ferreira, 2007), organizações que aprendem são “organizações nas quais as pessoas expandem continuamente a sua capacidade de criar resultados que realmente desejam, onde se estimulam padrões de pensamento novos e abrangentes, onde a aspiração colectiva ganha liberdade e onde as pessoas aprendem continuamente a aprender juntas.”
Deste modo e perante os novos paradigmas que se estão a impor às organizações os autores do artigo desenvolveram um modelo conceptual da organização que aprende (Franco e Ferreira, 2007).
O problema de se falar sobre “organizações que aprendem” é que “aprendizagem” perdeu o seu significado central no uso contemporâneo. No uso quotidiano aprendizado tornou-se sinónimo de “internalização de informações”. “Sim, aprendi isso naquela aula ontem”. No entanto, a internalização de informações tem pouca relação com a verdadeira aprendizagem. Para Piaget, o processo de aprendizagem está ligado à transformação. O aprender modifica o aprendente. O sujeito não é mais o mesmo depois que aprendeu. Modifica ou cria novas estruturas mentais, estabelece novas relações cognitivas, muda a sua maneira de pensar e agir. Enfim, modifica-se internamente e estabelece novas relações com o ambiente físico e social. Caso contrário, não há um verdadeiro aprendizado. No máximo haverá uma mudança superficial, como a do aluno que memoriza para passar na prova e em seguida esquece as informações que decorou. O conhecimento não é algo que venha de fora. O sujeito constrói seu conhecimento na acção, tanto com o meio físico como social. Mas ao falar de “aprendizagem organizacional”, transferimos a aprendizagem para a estrutura conjunta das pessoas numa organização. A aprendizagem organizacional não está relacionada a como o indivíduo, isoladamente, aprende dentro da organização, mas como indivíduos e grupos de trabalho, trabalhando juntos, criam novos padrões organizativos e mentais.
Apesar da instabilidade conceptual que gira em torno dela, a aprendizagem organizacional é actualmente reconhecida como uma área de elevado interesse, quer académico, quer empresarial, dado que possui um elevado valor analítico adequado às incertezas e às exigências dos mercados actuais, na medida em que é necessário que as organizações tenham capacidade para aprender, desaprender ou reaprender, com base no seu passado, de forma a manterem-se competitivas.
Porém, a literatura revela, relativamente à aprendizagem organizacional, alguns pontos de convergência entre os autores. Um dos aspectos mais consensuais é o facto de constituir uma importante fonte de vantagem competitiva sustentada, isto é, a aprendizagem organizacional permite que as organizações consigam fazer face às rápidas transformações económicas, sociais e de mercado da actualidade.
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Franco, Mário José Batista, Ferreira, Tânia Sofia da Costa (2007). Um estudo de caso sobre as organizações que aprendem. Comportamento Organizacional e Gestão, Vol. 13, N.º 2, 169-189